top of page

memória seletiva

  • Ana Carolina Albuquerque
  • 28 de mar. de 2021
  • 2 min de leitura

Existe muita gente invejosa nesse mundo, existe mesmo. Eu queria muito poder dizer que eu não me enquadro nessa (enorme) porcentagem populacional, mas a verdade é que eu poderia muito bem representá-la por completo dada a quantidade de inveja que eu tenho acumulada no meu corpo. Veja bem, eu não consigo lembrar dos detalhes exatos — esse é o meu problema. Na verdade eu estou sendo até gentil falando dessa forma, já que na realidade não consigo lembrar de nada do que é importante e que poderia ser considerado memorável para alguém.


A minha inveja vem daí: eu queria poder reviver momentos da minha mente, qualquer um. Não só revivê-los, mas poder contar à lua detalhe por detalhe, caso quisesse — não quer dizer que eu faria, mas ter a escolha seria bom. Eu tenho inveja de todas aquelas pessoas que, depois de um dia incrível com os amigos, viram para eles e gritam com entusiasmo "eu nunca vou me esquecer de hoje!" ou daquelas que, no meio da bagunça da vida, veem o tempo parar e observam o ambiente, seus amigos, as luzes e todos esses compostos juntos, enquanto juram para si mesmos guardar aquela lembrança para contar aos filhos. Eu invejo cada um de vocês que consegue cumprir essa promessa para si mesmos. acredito tenha sido esse um dos motivos pelo qual eu parei de fazer promessas — já não bastasse desapontar os outros, eu passei a desapontar a mim mesma toda vez que as quebrava.


Já perdi as contas de quantas noites terminei chorando depois de fazer o papel de chata —se é que essa é a palavra certa — depois de voltar de uma conversa com um amigo próximo, somente por não conseguir lembrar de momentos cruciais da nossa amizade. Aqueles mesmos momentos que eu prometi a mim mesma para sempre guardar foram apagados da minha memória sem autorização e muito menos um bilhete de despedida para acompanhar. Quando isso acontece a pior pessoa do mundo passa a se chamar Ana Carolina e se torna quase que impossível encarar a mim mesma no espelho.


É muito fácil me culpar por todas as coisas que não consigo controlar.


Não sei se algum dia vou conseguir compensar esse erro no meu sistema cerebral — afinal, se o que dizem é verdade e cada segundo é precioso e cada minuto traz um ensinamento, com quase 18 anos nas costas, perdi grande parte da minha trajetória, que hoje se encontra em uma piscina de memórias deletadas guardadas à sete chaves.


Cansei de fazer memórias e perdê-las no segundo seguinte que acontecem. Acho que vou começar a carregar uma câmera para onde quer que eu vá - talvez assim eu finalmente consiga capturar os momentos antes que eles me escapem.

 
 
 

Posts recentes

Ver tudo

2 comentários


bfalbuquerque
29 de mar. de 2021

Eu achava que era um sintoma da idade, que no meu caso é 2x maior que a sua (e mais uns centésimos...). Mas sobreviveremos e certamente os momentos estão tão bem guardados que nem sempre conseguimos achar em nossas memórias. :)

Curtir
Ana Carolina Albuquerque
29 de mar. de 2021
Respondendo a

certamente estão, sim! ❤

Curtir

©2022 por carol :)

bottom of page